Second Life torna pessoas solitárias em solidárias.

Mundo virtual dá "asas" a deficientes
Uma ilha criada especialmente para um grupo de 54 jovens permitiu a uma equipe multidisciplinar quebrar os esquemas tradicionais de tratamento de problemas de relacionamento, no caminho para uma mais fácil integração social.

Rocky Musashi tinha um sonho: usar a informática para aumentar os horizontes das pessoas.
Isso explica que em 2003 o avatar que na vida real se chama José Rocha tenha criado a ARCI (Associação Recreativa para a Computação Informática) reunião de voluntários com experiência nas áreas de tecnologias de informação, para “desenvolver projetos de âmbito sociocultural para entidades de solidariedade social, nas áreas das novas tecnologias”.
A descoberta do universo de Second Life, em 2004, abriu, de repente, um novo universo de possibilidades, a ARCI se envolvia com uma organização, a Novo Futuro, numa experiência piloto na área.
A Novo Futuro é uma associação para acolhimento e apoio a crianças e jovens privados de ambiente familiar, fundada em Portugal em 1996 e reconhecida em 2000 como IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) e de Superior Interesse Social.
Reunido, em 2005, um grupo de 54 crianças da associação, com idades entre os seis e os 18 anos, a ARCI concebeu um espaço dentro de Second Life para os jovens.
Como na altura ainda não existia a versão para menores de 18 anos atualmente online, a Linden Lab, criadora de Second Life, desenvolveu uma “ilha” especial para o projeto, onde só os jovens e os avatares dos responsáveis pelo trabalho de campo podiam entrar.
O projecto, inovador, teve o apoio da Fundação PT (Portugal Telecom).

Rocky Musashi recorda que “criaram-nos uma bolacha quadrada de 64 mil metros de área que foi depois preenchida com construções feitas pelos miúdos, ajudados por nós”. Nyne Wolfe, o avatar da companheira de andanças de Rocky (esposa na vida real) diz que “tentámos promover junto as crianças um novo conceito de interação e comunicação, promovendo equipes para a acriação de estruturas e negócios”.

O resultado já é visível atualmente: os que atingiram a maioridade colaboram com a ARCI.
Aprenderam programação, design, movem-se em Second Life com extremo à vontade e pretendem mesmo, afirma Nyne Wolfe, “desenvolver as suas próprias atividades comerciais”.
Um exemplo dessa capacidade de empreender projetos pode ser encontrado no simulador do Padrão dos Descobrimentos, criado pela ARCI, num dos seus “cantinhos de Portugal” (série de áreas de SL alusivas a locais do nosso País). Ali, a discoteca Psy Nation tem espaço de destaque. Crow Deckard, o jovem que concebeu o espaço, pretende organizar-se dentro de SL como decorador de espaços e agente de DJ. São ocupações com potencial saída no universo que o mundo virtual representa.

A experiência da ARCI com a Novo Futuro não é caso único.
De fato, a associação tem mais projectos executados ou em desenvolvimento.
Com a Advita – Associação para o Desenvolvimento de Novas Iniciativas para a Vida, está a desenvolver uma escola virtual para ministrar aulas na área dos cuidados paliativos.
A Advita, diz Rocky Musashi, “tem como propósito divulgar e expandir a figura do cuidador, que são todas as pessoas que tem idosos ou pessoas em risco ao seu cuidado, e através do SL é possível criar cursos dados por avatares da Escola Superior de Enfermagem que tornam divertida e fácil a aprendizagem dessas regras.”
Um exemplo do que se pode esperar encontrar em SL no futuro é o avatar Valentim Book réplica de um regente da Escola Superior de Enfermagem, com uma larga experiência na área, formador da Advita, e que saltou da vida real para a virtual ciente das possibilidades do novo meio na educação.
Ao todo mais de uma centena de crianças já passaram por projectos da ARCI.
A colaboração com associações estende-se também à AFID – Associação das Famílias para a Integração da Pessoa Deficiente, para quem a equipe liderada por Rocky Musashi desenvolveu outra experiência usando o Second Life.
Os resultados são animadores “isso é mais visível nos jovens com autismo ou trissomia 21 (Síndrome de Down) que tem mostrado grandes progressos na diminuição do estado de depressão, na capacidade de comunicação”.

Para muitos desses jovens o SL representa, acima de tudo “o sentimento da liberdade de movimento”.
O espaço Wheelies, em Second Life, criado por Simon Walsh, um empresário que vive preso a uma cadeira de rodas na vida real e que decidiu abrir no mundo virtual um lugar de reflexão sobre as possibilidades dos deficientes motores nesse novo mundo.
Uma exposição de trabalhos da AFID vai, em breve, surgir nas paredes do Wheelies, sinal do tipo de colaboração que SL veio potenciar.
"Decididamente o SL é uma ferramenta que tem, ainda, muito para explorarmos."
"O computador, contrariando a ideia inicial que dele existia, mais do que afastar pessoas, liga-as."
"Os mundos virtuais potenciam essa ideia, derrubando barreiras de comunicação e dando mobilidade, mesmo que virtual, a quem não a tem na vida real."

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